sábado, 29 de setembro de 2007

Foi Deus


Não sei, não sabe ninguém

porque canto fado, neste tom magoado de dor e de pranto . . .

e neste momento,

todo sofrimento

eu sinto que a alma cá dentro se acalma nos versos que canto

foi deus, que deu luz aos olhos

perfumou as rosas,

deu ouro ao sol e prata ao luar

ai, foi deus que me pôs no peito

um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

e pôs as estrelas no céu

fez o espaço sem fim

deu luto as andorinhas ai . . .

e deu-me esta voz a mim.

Se canto,

não sei porque canto

misto de ternura, saudade, ventura e talvez de amor mas sei

que cantando

sinto o mesmo quando,

me vem um desgosto e o pranto no rosto nos deixa melhor

foi deus,

que deu voz ao vento

luz no firmamento e pôs o azul nas ondas do mar

ai foi deus, que me pôs no peito

um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

fez o poeta o rouxinol

pôs no campo o alecrim

deu flores à primavera ai e deu-me esta voz a mim


(Amália Rodrigues)

3 comentários:

Maria disse...

As palavras e a voz aqui lembradas por ti.
Beijinhos

poetaeusou . . . disse...

*
luz no firmamento
e pôs o azul nas ondas do mar
,
o mar, omnopresente
*

Rui Caetano disse...

Adorei a imagem, aliás sou um grande apreciador de uma boa imagem. Quanto a mim, amante das letras, gosto imenso de ler as metáforas e os gestos espalhados em imagens, e quando acompanham um texto, poético ou em prosa, então, aí, tento logo decifrá-los.
lindo poema.