quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Quimera


Quero tanto dizer adeus
e não consigo
Quero tanto que não sejas meu e já o és
Como um perpetuo delírio
Que me aprisionou de vez.

Quisera eu sair, libertar-me
De tudo aquilo que sonhei e hoje tenho
De tudo aquilo que desejei
e agora é meu.

Mas como não o serás, agora eu deixo
Como um delírio que me assombra
e me persegue
Quisera eu dizer que já não quero
Quisera eu dizer que não preciso.

Quem sabe se será feitiço
Aquilo que por ti sinto
e o que por mim sentes
nesta quimera...

Agora que tenho alma e ser e sinto
Quero voltar ao ser oco que eu era.
E ficar para sempre assim
incandescente
E ficar assim nesta agonia eternamente.

Quisera eu saber
e não diria
o quanto eu te amo
sem que me impeças...

terça-feira, 6 de novembro de 2007


Hoje ofereceste-me flores.

Rosas.

Rosas sem espinhos como eu não o sou.

Flores.

A perfeição da natureza.

Como tantas outras coisas tão perfeitas...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007


"Transformamos a discórdia com os outros em retórica,

mas a discórdia connosco próprios em poesia."


W. B. Yeats, «Anima Hominis»

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Só para ti


Quero-te não por quem és

mas por quem sou

quando estou contigo...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Ser poeta


Como não conseguia encontrar palavras, pedi emprestado...


Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca

sábado, 29 de setembro de 2007

Foi Deus


Não sei, não sabe ninguém

porque canto fado, neste tom magoado de dor e de pranto . . .

e neste momento,

todo sofrimento

eu sinto que a alma cá dentro se acalma nos versos que canto

foi deus, que deu luz aos olhos

perfumou as rosas,

deu ouro ao sol e prata ao luar

ai, foi deus que me pôs no peito

um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

e pôs as estrelas no céu

fez o espaço sem fim

deu luto as andorinhas ai . . .

e deu-me esta voz a mim.

Se canto,

não sei porque canto

misto de ternura, saudade, ventura e talvez de amor mas sei

que cantando

sinto o mesmo quando,

me vem um desgosto e o pranto no rosto nos deixa melhor

foi deus,

que deu voz ao vento

luz no firmamento e pôs o azul nas ondas do mar

ai foi deus, que me pôs no peito

um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

fez o poeta o rouxinol

pôs no campo o alecrim

deu flores à primavera ai e deu-me esta voz a mim


(Amália Rodrigues)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sobre o ser


Choravas tu quando na vida entraste,
E riam todos porque tu nascias,
Não te vás a partir como chegaste,
Chorem todos então, e só tu rias.

(...)